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Um olhar

                       Adeus, Pai (1996)

     Sinopse - ficha técnica

    Manuel (João Lagarto), um ambicioso homem de negócios, sem tempo para a família, entra, uma noite, no quarto do seu solitário filho de treze anos, Filipe (José Afonso Pimentel) e anuncia-lhe umas férias entre pai e filho, no Verão que se aproxima. Estupefacto pelo inédito da situação, mas feliz por ver cumprido um dos seus grandes anseios, Filipe rejubila.

    As férias desenrolam-se, calmas, no arquipélago dos Açores, plenas de pequenas angústias, decepções, alegrias, triunfos e conquistas, resultantes de um conhecimento recíproco que se fez tardar e que só a imprevisibilidade da grave doença do pai veio proporcionar. A cumplicidade entre pai e filho emerge lentamente, o companheirismo desponta e os laços da paternidade acabam por se tornar avassaladores no viver de aventuras e experiências que se tornarão marcantes para o jovem. As férias chegam ao fim e Filipe volta, só, a Lisboa, onde retoma a sua vida rotineira, só que, desta vez, repleta de memórias do pai.

CRÍTICA

      Trata-se de uma interessante e atual história que retrata um dos pequenos grandes dramas familiares da sociedade atual: o pouco tempo que pais e filhos passam juntos e que os impede de estreitar laços e vivências que serão marcantes para o resto da vida: "Descobri que tenho um filho de treze anos que não conheci, que não me conhece e se calhar precisa de mim". Este é o pensamento bem pertinente de um pai que não quer partir sem deixar ao filho as memórias que o ajudarão a construir a sua personalidade. Daniel Sampaio sublinha num dos seus livros, em 2006, que “quando se é pai de uma criança, é fundamental perceber…que a ligação profunda com o filho é a base segura para que ele seja capaz de evoluir tanto no plano cognitivo como no campo afectivo”.

      No blog idest-istoe.blogspot.pt, Manuela Letras escreve: "Há um filme português, “Adeus Pai”, que aborda este tema de uma forma magistral e que nos leva ao mundo de uma criança de uma família de classe média alta que aparentemente tem tudo o que precisa e no entanto falta-lhe algo precioso que o leva a fazer o luto de um pai vivo". 

     O filho, por sua vez, fica feliz por finalmente escapar às férias aborrecidas com a mãe e a avó, em Sintra, mas não lhe dá tréguas, fá-lo entender que existe um vazio que ele, pai, terá que se esforçar por preencher - "Eu estava a acertar contas com o meu pai", confessa Filipe na narração em voz off - voice over. Mais tarde, após uma conversa algo embaraçosa para o pai mas altamente interessante para Filipe, este conclui: "Coitado do meu pai, ficou todo atrapalhado e nem percebeu que aquele foi o dia mais feliz das nossas férias. Falei com o meu pai sobre o tema que os homens mais gostam – as mulheres!".

      Este é um filme nitidamente constituído por fases – a fase dos primeiros encontros e desencontros entre pai e filho, quase estranhos; a fase da reconciliação, selada por um terno e longo abraço, e a partir da qual aumentam os momentos de carinho e cumplicidade; a fase do angustiante regresso de Filipe ao continente e a última fase onde o passado e presente se entrecruzam, onde o sonho e realidade se sobrepõem.

      O final é deixado em aberto, constitui um desafio à capacidade do espetador de refletir, de especular, imaginar… uma oportunidade para o espectador se interrogar e ficar a pensar sobre o filme. Armando Paulo Ferreira escreve no Blog Ecos Imprevistos: "No final somos contemplados ainda com um interessante twist que coloca uma nova perspectiva a esta história  e de certa forma, fica um rastilho de esperança".

       Repleto de momentos hilariantes e momentos de grande intensidade dramática, este é um filme que brota ternura e onde nada foi deixado ao acaso, abordando temáticas variadas de cariz familiar, social e histórico: o casamento por conveniência, o filho não desejado, o pai que nunca jogou à bola com o filho, (essa ausência da figura do pai que é transversal a todo o filme), a puberdade com a descoberta do amor e do sexo, a guerra colonial e as vidas que tragicamente destruiu.

      Opina-se, acerca da música, no blog sete olhares, que numa altura em que os Delfins eram uma banda que valia a pena ouvir, apesar de não conhecidos fora de Portugal (os estrangeiros perdem), a banda sonora é feita com uma canção, agradável, cativante e um número necessário de temas simples, quase pop-rock minimalista. Trabalho sólido embora não alcançando a qualidade da fotografia e da câmara em termos de adequação aos momentos, mas bom de qualquer forma.

      Acerca da fotografia, lê-se no mesmo blog : Impressionantemente boa. É muito raro encontrar este tipo de precisão de contrastes e de entendimento/interpretação da luz de um cenário de cinema (apesar de ser filmado inteiramente em local, era temporariamente um cenário), mesmo em produções de alto orçamento. Este é um trabalho de pintor, os pintores barrocos, especialmente Rembrandt, trabalhavam a luz nesta base.

        Frases

Filipe

  • Um pai ausente é mau… mas é pior quando se vive com ele e ele não nos liga.

  • O cheiro do meu pai vinha agarrado à minha roupa, nunca me esquecerei dele.

  • O meu pai não me quis levar ao aeroporto, diz que partir num táxi não é o mesmo que partir num avião. Quando uma pessoa entra num táxi ninguém lhe diz adeus para sempre.

 

Pai

  • Quem muda somos nós quando crescemos e deixamos de sonhar!

  • Gostaste destas férias? Acertaste as tuas contas comigo?

O teu olhar

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Em busca de novos olhares

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